segunda-feira, 2 de julho de 2012

Tanka

Teoria Literária do Tanka
Sílvia M L Mota

NOÇÕES CONCEITUAIS
Sob o aspecto literal, TANKA significa poema curto (tan - curto, breve; e ka - poema ou música). Constitui-se em estilo clássico, dos mais belos e sensíveis, da poesia japonesa. Além de ser uma forma popular de poema de amor, ao longo dos séculos foi veículo para expressar interdependência com a natureza.
Esta manifestação literária – prático-sensível - do pensamento de determinados poetas, permite através da sua análise, um maior acesso ao referencial simbólico, bem como a concepção de mundo dos seus autores (KIKUCHI, Mario Yasuo. Tanka: o poetar enquanto atividade pratico-sensível de velhos imigrantes japoneses. São Paulo, 1991. 328p. [FFLCH]. T KIKUCHI, M.Y. 1991. N. de sistema [000735249]).

APRESENTAÇÃO FORMAL
Importante se faz o conhecimento da apresentação formal do belo poema.

1 Quanto à estrutura dos versos
Formado por 31 sílabas poéticas, trata-se de um poema de cinco versos: 5-7-5-7-7 e divide-se em duas estrofes.
A primeira estrofe, denominada de kami no ku (primeiro verso), será um terceto, cujos versos serão formados por 5-7-5 sílabas poéticas. Contém sempre uma referência à estação do ano (kigo) e ao lugar onde se realizou a sessão; será sintaticamente completa, independente da estrofe seguinte. A segunda estrofe, denominada de shimo no ku (último verso), será um dístico, cujos versos serão formados por 7-7 sílabas poéticas (KIKUCHI, Mario Yasuo. Tanka: o poetar enquanto atividade prático-sensível de velhos imigrantes japoneses. São Paulo, 1991. 328p. [FFLCH]. T KIKUCHI, M.Y. 1991. N. de sistema [000735249]).
O dístico não deve ser separado do terceto por espacejamento maior daquele utilizado entrelinhas, mas tão somente será distinguido por um recuo, a partir da margem esquerda, maior do que o empregado para o terceto.

2 Quanto às rimas
Forma tradicional: sem rima.
Forma da língua portuguesa: com rima ABA BB.

ORIGEM NO MUNDO
Pela forma clássica do TANKA (31 sílabas), nasce um processo original e lúdico de criação. Os poetas reuniam-se para criá-los em conjunto. Assim, um criava a primeira parte e o outro a segunda. Como numa grande brincadeira, criavam longas séries de versos, às quais denominavam RENKA. Obra do engenho humano, com o tempo, a primeira parte criou autonomia, espalhando-se pelo Japão sob o nome de RENKA HAIKAI ou simplesmente HAIKAI. Portanto, o HAIKAI origina-se do clássico TANKA (BASHO, Matsuo. Trilha estreita ao confim. Tradução: TAKENAKA, Kimi; MARSICANO, Alberto. São Paulo: Iluminuras, 1997, p. 8. ISBN: 85-7321-060-5).
Basho era um grande hakaísta, bem visto por onde passava. A cada viagem escrevia os seus relatos, em kanná, a caligrafia apropriada para a escrita dos haikais (BASHO, Matsuo. Trilha estreita ao confim. Tradução: TAKENAKA, Kimi; MARSICANO, Alberto. São Paulo: Iluminuras, 1997, p. 15. ISBN: 85-7321-060-5). Um deles, denominado Visita ao Santuário de Kashima, datado de 1687, expõe HAIKAIS recolhidos dos poetas que encontrava pelos caminhos percorridos a pé. Num desses poemas denominados simplesmente de HAIKAI, o poeta Monge expõe a estrutura do TANKA, que hoje conhecemos como tal:
sempre o mesmo
no céu imutável
o clarão da lua
       mil espectros de luz
       nas multiformes nuvens
(BASHO, Matsuo. Trilha estreita ao confim. Tradução: TAKENAKA, Kimi; MARSICANO, Alberto. São Paulo: Iluminuras, 1997, p. 15. ISBN: 85-7321-060-5).
A mais antiga coletânea da poesia TANKA, na época chamada de Waka (poesia do Japão), foi compilada no século VII (743-759), sob a denominação Manyoshu. Compõem-se de 20 volumes, 4516 poemas escritos por mais de 400 praticantes, do imperador ao simples camponês. Até hoje, a família imperial realiza no início do ano uma reunião cerimoniosa onde o imperador, a imperatriz, os príncipes e as princesas apresentam seus TANKA. Trata-se do Shinen-uta-kai-hajime. A participação popular ocorre através dos TANKA enviados pelo povo, criados a partir de tema sugerido pelo imperador.
Deve-se ressaltar que o Kimiga-yo, Hino Nacional do Japão, é um TANKA escrito por tankista anônimo que consta na coletânea Kokinshu, compilada no século X (905).

ORIGEM NO BRASIL
O TANKA surge no Brasil, pela primeira vez, com Teijiro Suzuki (pseudônimo Nanju), um dos primeiros imigrantes japoneses. Por outro lado, quem o implantou e divulgou na colônia japonesa foi Kikuji Iwanami.

DO TANKA PARA A RENGA
A RENGA consiste num encadeamento de TANKA realizado por um grupo de autores, versando sobre um mesmo tema. O sistema de produção chama-se kyōdō seisaku. A RENGA mantém-se profundamente arraigada à tradição japonesa.

ALGUNS TANKA DA MINHA AUTORIA

Tanka 10
inverno tristeza -
corpo do irmão jaz em pó
na terra natal
        restos de pequeno mundo
        talvez o maior de todos
Rio de Janeiro, 28 de junho de 2015 – 4h5

Tanka 8
tempestade intensa –
natureza desmorona
sonhos de uma vida
        tristes as noites inertes
        de solidão sem luar
Rio de Janeiro, 17 de maio de 2016 – 21h5

Tanka 6
cume do telhado –
debruçadas entre as calhas
flores de ipê roxo
        mais precioso o teu beijo
        borra de amor meu baton
Rio de Janeiro, 17 de maio de 2016 – 20h10

Sílvia Mota a Poeta e Escritora do Amor e da Paz
Texto elaborado em 2009
Reedições:
Rio de Janeiro, 16 de julho de 2011 – 3h26
Rio de Janeiro, 17 de maio de 2016 - 21h

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